Para o pouco tempo de existência que este blog (blogue?) tem, tenho recebido uma quantidade extraordinária do chamado hate mail.
Grande parte das mensagens que tenho recebido podem dividir-se em:
1) És merda!
2) És só um ressabiado de merda! Um invejoso do caralho! Escondes-te atrás de um pseudónimo e de um blog só para mandar abaixo.
3) Quem te dera estar numa agência como a McCann!
4) Dizer mal é fácil. Queria-te ver a fazer as campanhas.
Como não tenho tempo para estar a responder a todas as pessoas de forma individual, cá vai disto:
1) Não concordo. Mas há muita gente (fora do mundinho da publicidade e tudo) que concordam convosco portanto, se calhar, sim sou merda. Mas garanto-vos que cheiro bem melhor que merda.
2) Ressabiado já fui e não compensa. Só dá chatices. Invejoso, claro que sou. Principalmente quando vejo na rua (ou na net) um trabalho formidável - por exemplo o "Smart Effect" da Jack the Maker/BBDO para a Smart. E quanto à velha questão do "estar escondido atrás de um pesudónimo", porra pá, claro que me escondo. Pretendo continuar a arranjar trabalho e tenho consciência que o conteúdo deste blog nem sempre será visto de forma positiva. Também trabalho na área e, admito, sou uma prima-donna de primeira. Odeio que digam mal do meu trabalho, principalmente quando se trata de projectos aos quais me dediquei de corpo e alma. Agora caramba malta, qual de nós não é assim? Não vou pôr em risco a subsistência da minha família por meia dúzia de gajos que não têm poder de encaixe suficiente para admitirem que o trabalho que meteram na rua ficou áquem do que podia ter sido.
3) Been there. Done that. A McCann de hoje tem gente, gente bastante jovem diga-se, com um potêncial enorme. Mas isso não se traduz em bons trabalhos e é pena.
4) Amigos, já tenho muitos anos e muitas campanhas em cima do lombo. Esse é o problema e é por isso que não aguentei mais e tive de criar este blog. É um escape de um gajo que realmente adora o que faz e que acha que ser pago (mesmo que mal pago) para pensar e executar aquilo que se pensou é tudo o que uma pessoa poderia querer de um trabalho. E quem faz perguntas deste tipo, ou é muito verdinho ou não percebeu o objectivo deste espaço. Aqui não se diz mal por dizer mal. Pode até parecer mas se lerem com atenção os posts verão que não é bem esse o esquema.
Deixem-me dizer-vos que tenho perfeita noção que há briefs de merda dados por accounts de merda que surgem de pedidos de merda de clientes de merda. E sim, também há criativos de merda e directores criativos de merda. Enfim, merda há muita. Mas o que realmente me chateia, e que é um mal instaurado, principalmente por gente de merda, são as pancadinhas nas costas. O deixa andar. O "esquece lá isso". O despacha. O "foda-se que isto é uma merda mas caga nisso.". E isso é o que leva à existência e à perpetuação da merda. Se faço um trabalho de merda, não quero pancadinhas nas costas. Quero que haja coragem, colhões, para admitir que o trabalho ficou uma merda. Já fiz n trabalhos de merda. Mas por ter consciência que saiu merda, por ter admitido a mim mesmo que aqueles trabalhos metem nojo, pude fazer trabalhos que considero excelentes, ou no mínimo não-merda. Óbvio que até o excelente pode sempre ser melhor (se me permitem um Ronaldismo) mas foda-se, como é bom sentires que tiveste uma ideia porreira e que resultou num trabalho do qual te podes orgulhar. Pode receber prémios ou não, mas se tu e quem o fez, mais do que a sensação de dever cumprido, sentirem orgulho, caralho, não há melhor sensação. Mas para isso tem de existir uma bitola. Tem de haver alguém ou um conjunto de alguéns que está preparado para ser brutalmente honesto contigo. E isso amigos, no nosso ramo, é gente rara e em vias de extinção. Pretendo, para o mal e para o bem, ser essa pessoa. Se a minha bitola não vos servir, óptimo. Boa sorte com isso. Se vos puder ajudar a fazer melhor, óptimo também e boa sorte com isso.
Este blog não serve para um publicitário frustrado descarregar em cima dos colegas. Gostava que servisse para abrir o olho a toda a gente. Especialmente aos clientes. Principalmente aos clientes que exibem orgulhosos campanhas de merda e trabalhos medíocres que só servem para cumprir objectivos internos e manter o cú do gajo ou da gaja sem cérebro na cadeirinha por mais uns tempos. Gostava que as mensagens chegassem aos clientes, a esses semi-deuses que são os Directores de Marketing e aos Directores Gerais, para que eles entendessem de uma vez por todas que ainda há quem se importe com o que polui as nossas ruas, a nossa Tv e a nossa net. Se tenho de papar publicidade em todo o lado, ao menos que seja de qualidade.
No meu mundo perfeito há criativos à frente das marcas e não malta que só pensa em métricas, targets e engagements. Houvessem mais criativos (entendendo "criativo" como alguém que pensa criativamente e não necessariamente um criativo publicitário) à frente das marcas e aposto que estas ganhavam os colhões para fazer mais e melhor do que as merdas que se fazem agora. E até aposto que o fariam com menos dinheiro. É que o talento que existe nas agências e é desperdiçado a fazer folhetos de merda e campanhas de merda é inacreditável. Comparem a acção para a Smart que referi ali em cima a qualquer coisa que tenham visto este ano feito em Portugal. Digam lá que não é uma acção do caralho? Digam lá que não têm inveja daquilo e que não gostavam de ter feito parte daquela equipa. Porra, se tenho inveja... e orgulho. Este blog existe também devido àquele trabalho. Porque enquanto houver gente daquela e clientes com uns colhões daqueles, há esperança.
Por isso amigos, continuem a enviar postas de pescada: opublicitorio@gmail.com
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